(Doutorado em Química pela UFC)
1. Qual a importância de estudar espécies vegetais do ponto de vista fitoquímico?
R- O estudo químico, bem como a pesquisa fitoquímica vem sendo despertada desde muito tempo ao longo da história visando o interesse na composição química ou no conhecimento de grupos de metabólitos especiais das plantas principalmente quando essas são classificadas como medicinais.
2. Há muitos estudos fitoquímicos a respeito da espécie Peschiera affinis?
R- Não, mas há bastante no gênero e dentre as estudadas há relatos de vários alcalóides, triterpenos, entre outras classes de metabólitos especiais, aos quais lhe são atribuídas inúmeras atividades biológicas tais como anti-tumoral, anti-microbiana, anti-hipertensiva, contraceptiva, anti-inflamatória, anti-malarial, anti-HIV, bactericida e atividade leishmanicida além de ação estimulante sobre o sistema nervoso central.
R- Sim, pois a técnica utilizada foi a cromatografia em coluna onde a fase estacionária utilizada foi a sílica gel, a mesma tem caráter ácido. Logo havia um problema, pois alcalóides têm caráter básico, então o que aconteceria na coluna seria uma reação ácido-base e os alcalóides seriam retidos e dificilmente isolados. Para evitar isso, tive que tratar a sílica gel de maneira a reduzir esse caráter ácido. O ideal mesmo seria ter isolado por Cromatografia Líquida de Alta Eficiência – CLAE, mas isso, na época, era inviável.
4. Dessas substâncias que você isolou tem alguma inédita? E qual a contribuição para a ciência?
R- Sim, os alcalóides com esqueleto piridocarbazole peschienina, N-hidróxi-peschienina e o de esqueleto do tipo iboga isovoacristina hidroxiindolenina estão sendo reportados pela primeira vez na literatura e o N-óxido de olivacina e a mistura dos terpenos: acetatos de α,β-amirina estão sendo reportados pela primeira vez na espécie. Dessa forma, as substâncias isoladas demonstram que uma reinvestigação fitoquímica faz-se viável e necessária, pois a cada estudo há possibilidades de encontrar novos metabólitos especiais aumentando, assim, a variedade destes, contribuindo para o conhecimento da biodiversidade, bem como a descoberta de atividades biológicas de tais substâncias.
5. Você realizou algum tipo de atividade com os alcalóides isolados?
R- Sim, apenas a atividade antioxidante, mas por dois métodos: o de sequestro do radical livre DPPH e o método do beta-caroteno. Isso porque as quantidades que obtive foram mínimas para que se pudesse realizar outras atividades. Essas pequenas quantidades foram resultados da dificuldade de obtenção.
Allana Kellen Lima Santos (Doutorado em Química pela UFC)
Peschiera affinis é um arbusto da família Apocynaceae, conhecida popularmente como “empigeira”, “grão de bode”, “grão de porco” em diversas partes do País e como “grão de galo” no estado do Ceará. É uma espécie rica em alcalóides indólicos, os quais exibem diversas atividades biológicas tais como anti-tumoral, antimicrobiana, anti-hipertensiva, contraceptiva dentre outras. Estudos anteriores relatam a presença de alcalóides indólicos do tipo iboga, sarpagina, vobasina, além de alcalóides do tipo piridocarbazole além de terpenóides.
Este trabalho relata o estudo fitoquímico dos metabólitos especiais isolados das raízes e caule de P. affinis. A análise cromatográfica dos extratos hexânico e etanólico das raízes e o extrato etanólico do caule permitiu o isolamento e identificação de dez constituintes químicos fixos entre estes: os alcalóides olivacina, peschienina, N-hidroxi-peschienina, voacangine, mistura dos alcalóides indólicos affinisina e iboxigaine, Nb-óxido olivacina, isovoacristina hidroxiindolenina, voacangina, mistura dos alcalóides do tipo iboga voacangina e coronaridina e a mistura dos terpenóides acetatos de α,β-amirina. Na determinação estrutural dos compostos isolados utilizou-se as técnicas espectrométricas: IV, EM, RMN 1H e 13C incluindo técnicas bidimensionais (COSY, HMQC, HMBC, NOESY) e ainda, comparação com dados espectrométricos descritos na literatura. Os acetatos de α,β-amirina são reportados pela primeira vez nesta espécie enquanto que os alcalóides peschienina, N-hidroxi-peschienina e isovoacristina hidroxiindolenina estão sendo reportados pela primeira vez. Foi feita a quantificação do alcalóide indólico olivacina na fração alcaloídica dos extratos etanólicos das raízes e caule por meio de CLAE.
Foram realizados ensaios antioxidantes utilizando métodos tanto qualitativo como o teste em CCD aspergida com solução de β-caroteno quanto quantitativo como o teste espectrofotométrico utilizando o radical livre 1,1-difenil-2-picrilidrazila (DPPH) e como controladores positivos o ácido 6-hidroxi-2,5,7,8-tetrametilcroman-2-carboxílico (Trolox) e o 2,6-di-terc-butil-4-metilfenol (BHT) com o extrato etanólico das raízes, as frações alcaloídicas e não-alcaloídicas e as substâncias puras PA-1, PA-2, PA-3, PA-4, PA-6, PA-7, PA-8 e PA-9. Onde pode-se observar que PA-9 e a fração alcaloídica das raízes tiveram significativa atividade antioxidante com um percentual médio de 58.6%, ambas. Em seguida as frações não-alcaloídica e o extrato etanólico das raízes com uma média de 57.3% e 54.4%, respectivamente.
(Trabalho desenvolvido na Universidade Federal do Ceará no período de 2004 a 2008 na área de Química, sub-área de Química Orgânica – Produtos Naturais - Fitoquímica)
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