segunda-feira, 30 de maio de 2011

Clarissa Boschiero, por Maria Luiza

Clarissa Boschiero
Formada em Zootecnia
Mestrado e Doutorado em Produção Animal
projetos voltados para a Genética Molecular Animal

1. Quais as razões que a levaram a escolher a Zootecnia como formação e, mais especificamente, a se dedicar a Genética Molecular Animal?
            Dede muito cedo tinha vontade de ser cientista e sempre gostei da área de biologia, prestei vestibular no primeiro ano para biologia e veterinária, mas não tive muito sucesso. Passei em administração de empresas e fiz o curso durante pouco mais de um ano, mas parei e fui fazer cursinho, e durante um ano tive oportunidade de saber mais sobre os cursos e me interessei muito pela zootecnia, já que além de estudar muitos animais, o curso era voltado para o benefício da sociedade, ou seja
melhorar a criação e desenvolvimento dos animais, para uma maior produção de produtos de origem animal e isso envolvia a genética. Então prestei vestibular zootecnia em 2 universidades, passei nas duas e optei por Botucatu (SP). Durante a graduação me interessei ainda mais pela ciência e desde cedo fui fazer iniciação científica, num projeto que envolvia o melhoramento genético de rãs. Também fiz um estágio em citogenética, mas não estava satisfeita. A genética em si sempre me fascinou, pois ela era uma das grandes responsáveis pela expressão das características nos seres vivos. Com o evento da clonagem da ovelha Dolly e os primeiros organismos geneticamente modificados, decidi que era com isso que gostaria de trabalhar. No ultimo ano da faculdade, escolhi fazer estagio num laboratório de genética molecular animal (USP, ESALQ) e na Embrapa Suínos e Aves. Foi a partir deste estágio que comecei a ter realmente a vivência de laboratório e a aprender todas as técnicas de genética molecular. Desde a graduação tinha o sonho de ir fazer um estágio no Roslin Institute, onde clonaram a ovelha Dolly. Mas então tive a oportunidade de fazer o mestrado num projeto de genética de galinhas, e o Doutorado foi a continuidade do projeto, mas ambos realizei em Botucatu e em colaboração com o laboratório em Piracicaba. Depois do doutorado tentei conseguir um Pós Doutorado fora do Brasil, foi muito demorado ter alguma resposta positiva e conseguir uma bolsa, mas depois de mais um ano, consegui o tão sonhado Pós Doutorado no Roslin Institute, onde estou a menos de 2 meses.

2. Com o que você está trabalhando hoje?
            Hoje faço Pós Doutorado no Roslin Institute (Edimburgo, Escócia), onde participo de um projeto de genômica da galinha, onde estamos buscando mutações (polimorfismos) no genoma e depois iremos tentar associar estes SNPs com características de interesse comercial, como peso vivo, gordura ou características relacionadas a doenças. Também sou colaboradora em dois projetos de doutorado no Brasil, na ESALQ/USP, ambos projetos são voltados para estudos da genômica de aves.

3. E quais são seus interesses atuais? 
            Meu interesse é aprender o máximo possível no Instituto onde estou, embora as dificuldades são inúmeras devido ao idioma e as pesquisas extremamente avançadas que são realizadas. Atualmente estou me focando mais na área de bioinformática e não faço trabalho de laboratório. Hoje em dia com os novos equipamentos (seqüenciadores de nova geração), onde um grande número de sequencias são geradas em pouco tempo, é necessário ter conhecimentos computacionais específicos para conseguir analisar todas estas milhares de sequencias. Também pretendo este ano finalizar de escrever meus dois artigos, referentes ao meu trabalho de doutorado e publicá-los em revistas internacionais. Também tenho um blog (http://falandodedna.wordpress.com/) para discutir assuntos relacionados a genética molecular e pretendo este ano continuar a atualizá-lo com temas interessantes.

4. O que você recomenda para um jovem que pensa em seguir o caminho que você seguiu?
               Recomendo desde cedo buscar informações, conversar com pessoas que trabalham em diferentes áreas, visitar universidades, ler muito sobre isso e depois que estiver na graduação, desde muito cedo fazer vários estágios, mesmo que não tenha idéia do que queira se especializar, pois eu fiz estagio na graduação em diversas aéreas (genética, avicultura, coelhos, neuroanatomia, búfalos, ranicultura, apicultura, entre outros). Quem gosta de pesquisa, o mais recomendado é fazer uma iniciação científica durante a graduação, pois lhe permite grande aprendizado prático. Recomendo sempre que tiver oportunidade participar de Congressos, pois nestes locais as pesquisas mais recentes são divulgadas. Ter conhecimento do inglês é fundamental, para ler artigos em revistas internacionais, pois o inglês é a língua universal da ciência. Se escolher o caminho errado, não ter medo de parar e começar do zero. Conversar com professores sempre é muito bom, pois eles podem dar ótimos conselhos. E claro, não desistir nunca do seu objetivo.

5. Na sua opinião, é possível, no caso do Brasil, tornar a Genética mais acessível para a sociedade, para o cidadão comum? De que forma?
           Sim, mas para isso os jornalistas precisam estudar um pouco de genética e não simplesmente publicar matérias sensacionalistas, como dizer que as células tronco podem ser a solução de cura para muitas doenças. Além disso, a ciência precisa ser comunicada de forma simples para não assustar as pessoas leigas, pois o assunto é muito complexo, mas por outro lado as pesquisas não devem ser vistas como projetos malucos, como os alimentos transgênicos, onde muitas pessoas acham que são extremamente prejudiciais, mas nem sabem ao certo o que é. Os cientistas também precisam ter paciência e colaborar para a divulgação da ciência, não apenas no meio acadêmico, mas também em revistas, jornais, blogs e internet. Também acho que mais discussão sobre estes temas devem existir – como debates em escolas, universidades, televisão, rádio, etc.
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